domingo, 27 de setembro de 2009

Dias Acinzentados, São Esses!



"Às vezes me espanto e me pergunto como pudemos a tal ponto mergulhar naquilo que estava acontecendo, sem a menor tentativa de resistência. Não porque aquilo fosse terrível, ou porque nos marcasse profundamente ou nos dilacerasse - e talvez tenha sido terrível, sim, é possível, talvez tenha nos marcado profundamente ou nos dilacerado - a verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou."

(Caio Fernando Abreu - Do outro lado da tarde)

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Loucos e Santos


Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem,
mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos,
nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.
(Oscar Wilde)

à todos os meus [velhos e novos] queridos amigos!
Feliz dia do Amigo!

domingo, 19 de julho de 2009

Veja Bem, Meu Bem.


Veja Bem, Meu Bem
(Los Hermanos)



Veja bem, meu bem
Sinto te informar que arranjei alguém
pra me confortar.
Este alguém está quando você sai
E eu só posso crer, pois sem ter vocênestes braços tais.



Veja bem, amor.
Onde está você?
Somos no papel, mas não no viver.
Viajar sem mim, me deixar assim.
Tive que arranjar alguém pra passar os dias ruins.



Enquanto isso, navegando vou sem paz.
Sem ter um porto, quase morto, sem um cais.
E eu nunca vou te esquecer amor,
Mas a solidão deixa o coração neste leva e traz.



Veja bem além destes fatos vis.
Saiba, traições são bem mais sutis.
Se eu te troquei não foi por maldade.
Amor, veja bem, arranjei alguém
chamado "Saudade".

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Aumenta o Som!

O DVD Multishow Ao Vivo, da cantora Vanessa da Mata, foi gravado ao vivo na cidade histórica de Paraty, e traz no repertório canções que marcaram a carreira da intérprete como "Não Me Deixe Só", "Ai Ai Ai", "Eu Sou Neguinha", "Vermelho", "Pirraça", além da inédita "Acode" (composta pela própria cantora) e das regravações de "Um Dia, um Adeus" (Guilherme Arantes) e "As Rosas não Falam" (Cartola). O trabalho traz também a participação especial dos músicos Sly Dunbar & Robbie Shakespeare, lendas vivas do reggae jamaicano. Além do show, o DVD traz nos extras imagens da turnê de Vanessa da Mata pela Europa e o encontro da cantora com Ben Harper em São Paulo, onde gravaram um vídeo clipe para o mega hit "Boa Sorte/Good Luck". A direção musical ficou por conta de Kassin e Mario Caldato e a direção geral do DVD é de Joana Mazzucchelli.

Vale a Pena Conferir!


terça-feira, 14 de julho de 2009

Clarice


"Já entrei contigo em comunicação tão forte que deixei de existir sendo. Tu tornas-te um eu. É tão difícil falar e dizer coisas que nunca podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real, entre nós dois dificílimo contar: olhei pra você por uns instantes, tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita... Eu chamo isso de estado agudo de felicidade.”

(Clarice Lispector)

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Clarice



Engraçado como as coisas acontecem sem que tenhamos esperado. Há alguns anos fui apresentado a tão doce e enigmática leitura, lembro-me bem de tal momento. O livro "Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres" me trouxe "as vistas" uma mulher que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus escritos, levando o leitor a uma reflexão intima do seu eu e do seu cotidiano. Suas obras caracterizam-se pela exacerbação do momento interior e intensa ruptura com o enredo factual, a ponto de a própria subjetividade entrar em crise. Desde então, trato isso como "paixão a primeira leitura" e a partir daí, é Clarice nas mãos e a madrugada sem fim para enfrentar o vazio implacável do silêncio.
Crio esse espaço aqui no blog, para fazer com que outras pessoas tenham o mesmo prazer de conhecer Clarice Lispector e "desbulhar" trechos de suas obras para o deleite dos leitores desse humilde blog.


"Muito Prazer, eu sou Clarice Lispector!"

E pra começar:

“Estou sentindo uma clareza tão grande que me anula como pessoa atual e comum: é uma lucidez vazia, como explicar? assim como um cálculo matemático perfeito do qual, no entanto, não se precise. Estou por assim dizer vendo claramente o vazio. E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior do que eu mesma, e não me alcanço. Além do quê: que faço dessa lucidez? Sei também que esta minha lucidez pode-se tornar o inferno humano — já me aconteceu antes. Pois sei que — em termos de nossa diária e permanente acomodação resignada à irrealidade — essa clareza de realidade é um risco. Apagai, pois, minha flama, Deus, porque ela não me serve para viver os dias. Ajudai-me a de novo consistir dos modos possíveis. Eu consisto, eu consisto, amém.”

(Retirado do Livro Aprendendo a viver)

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Um Primeiro Momento


Como começar? por onde começar? Todo começo acende uma chama de "medo", de reclusão... Nunca pensei que me tornaria adepto de tal situação, escrever... escrever o que meu Deus?! Porque expor num diário eletrônico aquilo que sinto, que vejo, que desejo? Talvez pela estranha necessidade humana de comunicar-se, de se expressar com total liberdade. Inicio, como quem nada quer, quem nada sabe... mas como quem busca aprender a cada momento vivido, a cada nova situação comentada, a cada palavra dita.



"E no céu do meu eu,
No íntimo, no âmago..
Acendeu um límpido relâmpago."

(Sexo e Luz - Gal Costa)